Basta fazer uma rápida busca na internet para perceber que a prática de recitar um “mantra” se tornou uma espécie de remédio para alguma coisa. Um tipo de fórmula mágica para se adquirir algo. É fácil encontrar mantras para as mais diversas coisas como “mantra para atrair amor”, “mantra para atrair dinheiro”, “mantra para abrir os caminhos”, “mantra para curar doenças difíceis”. Existem mantras para uma infinidade de outras coisas curiosas.
Para aprofundarmos nosso conhecimento, é preciso entender melhor a origem dos mantras. No ocidente, a palavra mantra começou a ser usada de forma genérica para definir toda e qualquer frase ou palavra que tem como objetivo a aquisição de algo. Não que isso seja algo errado, mas quando você anda pela Índia, os indianos mais tradicionalistas fazem questão de deixar claro que uma frase ou uma palavra, para ser chamada de mantra, precisa, obrigatoriamente, ter sido extraída do Rig Veda, o primeiro e maior dos 4 livros que compõe Os Vedas, a obra literária mais antiga da língua Indo-Ariana.
Estudiosos como o linguista alemão Max Müller (1823-1900), que dedicou sua vida ao estudo das traduções dos clássicos indianos, indica que “Os Vedas” foram concluídos antes de 600 a.C.
Rig significa “verso” e o Rig Veda, é, em sua grande parte, uma coleção de hinos de louvor e orações à uma variedade de deidades indianas. Então, um mantra para riqueza e prosperidade pode ser um trecho dentro do Rig Veda extraído de uma das orações de adoração à deusa Lakshmi, a deusa da prosperidade, que em muitas das suas imagens possui em uma das suas quatro mãos um cântaro que jorra moedas de ouro. Ou seja, um mantra, em sua origem, é exclusivamente uma oração de adoração a uma deidade indiana.
Na Índia, para que haja uma distinção, as frases que não foram extraídas do Rig Veda são geralmente chamadas de bhajan.
Um bhajan também é uma espécie de oração devocional às divindades em forma de versos ritmados. Sendo mais simplista, um bhajan nada mais é que um mantra que foi criado pelo homem, pois acredita-se que os versos do Rig Veda foram concebidos de uma forma divina.
Esclarecidos todos esses pontos, hoje, como uma espécie de convenção universal, um mantra é um instrumento, uma oração, que tem como objetivo nos conectar com uma divindade.
Podemos então sugerir que a oração do Pai Nosso é um mantra para nos conectarmos com Jesus, que a oração da Ave Maria é um mantra para nos conectarmos com a Virgem Maria. Assim como o mantra “Om mani padme hum” também é uma espécie de oração para nos conectarmos com Avalokiteshvara, uma divindade do budismo tibetano.
A função de um mantra não deveria ser limitada à ideia de aquisição de algum objetivo. Um mantra também não deveria ser entoado para uma divindade com a qual não tivéssemos uma comunhão sincera.
Um mantra, na realidade, é um convite para que as qualidades da divindade ao qual nos conectamos se manifeste sobre a nossa consciência.
Um mantra é um elo de amor.
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